A ópera “João e Maria” estreou na noite desta quinta-feira (1º) com ingressos esgotados para os três dias de récita. A produção criada em 2002 no Theatro Municipal de São Paulo veio completa para Belém, especialmente para o XI Festival de Ópera do Theatro da Paz. Trata-se da ópera de maior sucesso e longevidade a ser montada no Brasil. Na capital paraense, esta edição da obra do compositor alemão Engelbert Humperdinck comemora dez anos de existência encantando adultos e crianças.
A escolha de João e Maria para fazer parte da programação do festival não foi gratuita. Um dos objetivos do evento é a formação de plateia, e esta montagem em especial já tem a sua fórmula bastante testada, obtendo sucesso de público em todas as seis temporadas anteriores. “Aproximar as pessoas do Theatro da Paz, apresentar a elas novas possibilidades de música, criar o vínculo do público com o formato da ópera são algumas das nossas metas. Esta ópera reúne todas estas possibilidades. A música é muito bonita, o tem é popularmente conhecido e tem o apelo de servir ao público infantil”, diz Gilberto Chaves, diretor artístico do festival.
A mezo soprano Luciana Bueno, que interpreta João, está em Belém pela quarta vez participando do Festival de Ópera. Ela compôs o elenco de estreia de “João e Maria”, no entanto nesta temporada muda de personagem. Em Belém a cantora assume o papel do valente garotinho que se perde na floresta com a irmã.
“Foi uma grande surpresa quando recebi o convite para participar da ópera como o João. Já havia interpretado o papel da mãe na estreia e em mais duas temporadas e nunca imaginei representá-lo. A preparação para este personagem foi bastante intensa, foram três meses apenas estudando a música. Depois comecei a compor o personagem e me inspirei nos garotinhos da turma de jardim de infância da minha filha, em especial um, o Caique, de quem além dos trejeitos, herdei a franjinha, que fiz questão de pedir para ser colocada na peruca que uso para o personagem”, conta Luciana.
Maria é representada pela soprano Laryssa Alvarazi, uma jovem cantora que pela primeira vez interpreta o papel da garotinha nos palcos. Considerada por Mauro Wrona, diretor artístico do Festival, como dona de uma voz cristalina e como um dos talentos que deve despontar no cenário operístico brasileiro.
Complexidade – Outro enorme desafio foi a participação da Orquestra Jovem Vale Música, responsável pela execução da música de Humperdink. O maestro Jamil Maluf, que rege a orquestra composta por jovens estudantes de música erudita, explica que a composição tem trechos bastante difíceis de serem executados e que foi uma surpresa muito grande descobrir que estaria à frente deles.
O diretor artístico do festival, Mauro Wrona, chama a atenção para a importância do trabalho de Jamil Maluf e para a grande oportunidade dos jovens da orquestra terem o maestro à frente desta ópera. Jamil Maluf criou em 1990 a Orquestra Experimental de Repertório, responsável pela formação musical de alguns dos melhores instrumentistas e músicos do Brasil. Atualmente mais de 30 músicos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), considerada a melhor orquestra do Brasil e uma das melhores do mundo, saíram da Orquestra Experimental de Repertório.
Jamil ainda foi diretor do Theatro Municipal de São Paulo por quatro anos. “É muito importante o trabalho que o maestro Jamil está realizando com a Orquestra Jovem. Ele é uma pessoa muito exigente, tanto pela disciplina que ele impõem na formação dos músicos, quanto pela qualidade que ele exige deles. Foi uma grande sacada do secretario de cultura (Paulo Chaves), a presença dele no Festival”, avalia Wrona.
Além da bela música, e das grandes interpretações dos cantores, o diferencial deste espetáculo é a utilização do teatro negro. A companhia de teatro paulista Imago é responsável pela manipulação dos elementos de cena que parecem ganhar vida no palco. Seis atores da companhia estão em Belém para manejar animais, anjos, insetos, olhos gigantes e bruxas que brilham no fundo de cena e surpreendem os espectadores.
Fernando Anhê, diretor da Imago, além cenógrafo e figurinista de João e Maria celebra a utilização da técnica como o método ideal de garantir a atenção e interesse das crianças durante o espetáculo. “Quando o maestro Jamil Maluf resolveu montar João e Maria no Brasil em 2002, convidou a imago para participar da produção. A ideia era criar elementos cênicos que fossem próximos a esta geração tão visual, por isso a escolha pelo teatro negro, que tem uma linguagem próxima a animação, ao vídeo game de dez anos atrás.”, diz Fernando Anhê. A afirmação do cenógrafo é verdadeira, adultos e crianças ficam vidrados e várias exclamações surgem da plateia durante o espetáculo.
Ulisses Buenaventura, 5 anos, era uma das várias crianças presentes no Theatro da Paz, o personagem preferido do menino foi o valente João e assim como os outros pequeninos vaiou a bruxa ao final do espetáculo. “Foi muito legal a ópera, gostei quando o João empurruo a bruxa no forno”, disse Ulisses. Marcelle Rolim, mãe de Ulisses, estava satisfeita com a experiência do espetáculo. “A ópera é muito divertida e uma oportunidade muito boa de trazer o Ulisses no Theatro da Paz. É a primeira vez que ele vem e está adorando”, comenta Marcelle.
Fonte: Agência Pará